sábado, 5 de novembro de 2011

O QUE A ARQUEOLOGIA PODE NOS ENSINAR SOBRE A HUMANIDADE?

Humanos modernos - Homo sapiens - viveram por milhares de anos antes de começarem a escrever suas aventuras. O período antes de começarmos a rabiscar nossos pensamentos na pedra e no papel (o que os historiadores chamam de pré-história) pode apenas ser revelado por meio da pesquisa, da descoberta e da interpretação de coisas materiais que nossos ancestrais deixaram para trás. A arqueologia é o campo da ciência dedicado a essa busca e, até que as viagens no tempo sejam possíveis, ela é a melhor maneira de estabelecer
uma linha do tempo humana e construir a histórias de nossa espécie.

Definir o início exato dessa linha do tempo tem sido um dos maiores desafios da arqueologia há décadas. Hoje, a maioria dos arqueólogos e antropólogos concorda que os humanos modernos fizeram sua grande estreia cerca de 195 mil anos atrás. Mas de onde esses humanos vieram? Uma linha de espécies parecidas com o ser humano, ou hominídeos, precede o Homo Sapiens?

Em 1974, Donald Johanson forneceu uma importante pista quando descobriu os ossos de um hominídeo de 3,2 milhões de anos em Hadar, na Etiópia. Ele chamou o espécime de Australopithecus afarensis, ou Lucy, para encurtar. Lucy deteve o recorde como o mais antigo ancestral humano até 1994, quando Tim White, da Universidade da Califórnia, em Berkeley, encontrou restos de esqueleto de um hominídeo de 4,4 milhões de anos conhecido como Ardipithecus ramidus, ou Ardi. Desde então, mais descobertas marcantes foram feitas. Em 1997, cientistas encontraram ossos de uma nova espécie, Ardipithecus kadabba, que viveu entre 5 milhões e 6 milhões de anos atrás. E em 2000, outra equipe desenterrou o Orrorin tugenensis, um hominídeo do tamanho de um chimpanzé que viveu há 6 milhões de anos. Usando isso e evidências similares, arqueólogos formaram uma linha do tempo da humanidade e da pré-humanidade.

Os fósseis hominídeos mais velhos foram encontrados na África Oriental, ao longo da linha que se estende de Olduvai Gorge, no sul, até Médio Awash, região da Etiópia, ao Norte. A concentração das descobertas levou a maioria dos cientistas a considerar essa região o berço da humanidade. Mas como espécies parecidas com o homem se espalharam dessa região para o resto do mundo - um processo conhecido como diáspora africana? A arqueologia pode responder essa questão. A teoria que prevalece é a seguinte: Cerca de 2 milhões de anos atrás, os ancestrais pré-humanos deixaram a África para popular partes da Ásia, o Oriente Médio e a Europa. Mais tarde, os primeiros humanos de verdade seguiram em uma segunda onda que, com o tempo, substituiu os vestígios da primeira, a diáspora pré-humana. Com o tempo, esses primeiros humanos formaram todas as raças e civilizações que conhecemos hoje, incluindo maias, fenícios, gregos e romanos.

Compreender essas grandes civilizações é outra importante função da arqueologia. Por exemplo, historiadores aprenderam muito sobre a sociedade romana escrutinando as características e os artefatos de Pompeia e Herculano, duas cidades antigas enterradas em 70 d.C. pelas cinzas ejetadas pelo Monte Vesúvio. Eles formaram histórias similares em todo o mundo. É como nós viemos a saber de pessoas e lugares, bem como comportamentos e crenças, das civilizações através do tempo.

À medida que os arqueólogos descobrem novos sítios e vestígios, eles devem revisar constantemente a história humana. Considere as revelações do arqueólogo alemão Klaus Schmidt, que acredita ter encontrado o primeito templo da humanidade. Desde 1994, Schmidt vem escavando uma região conhecida como Gobekli Tepe, no sudoeste da Turquia. Lá, no topo das colinas ondulantes, ele encontrou vários círculos com pilares em forma de T entalhados em pedra maciça. Os círculos poderiam ser remanescentes de Stonehenge, exceto por antecederem o famoso local inglês em 6 mil anos. Na verdade, as estruturas no Gobekli Tepe foram construídas há 11,5 mil anos - 7 mil anos antes das grandes pirâmides do Egito (e antes do sedentarismo).
Desenhos de animais, plantas e mãos juntas esculpidas em alto relevo nos pilares e restos de esqueletos humanos encontrados no local indicam que ali era um local sagrado.
De acordo com Schmidt, os humanos se reuniam no seu templo para tomar parte de um culto religioso. Essa reunião encorajou a cooperação e a colaboração e levou ao desenvolvimento de cidades. Se as teorias estiverem corretas, precisaremos reescrever nossos livros de história que, atualmente, declaram que as vilas organizadas precedem a religião organizada.

As maiores lições da arqueologia, contudo, vão além de datas e lugares. As coisas mais importantes que podemos aprender com o passado são que erros evitar e que atividades úteis e benéficas copiar. Ao estudar estratégias de batalhas antigas, os líderes militares modernos podem estar melhor preparados para enfrentar seus inimigos. Ao examinar tecnologias antigas, os engenheiros modernos podem construir estruturas mais forte e duradouras. E ao analisar várias formas de governo, os líderes de nossas cidades, estados e nações poderiam estabelecer sistemas que servem a seus cidadãos de maneira mais eficaz.

Foi isso que fez James Madison. Em 1787, com a efetividade dos Artigos da Confederação (primeiro documento de governo dos EUA) fracassando, os Estados Unidos reuniram os delegados para uma Convenção Constitucional na Filadélfia. Madison foi para a convenção e apresentou o Plano Virgínia, que exigia um governo central mais forte. Ele desenvolveu o plano depois de pesquisar estruturas de governo na história do mundo e destacou as razões pelas quais as tentativas anteriores de democracia ou falharam ou foram bem-sucedidas. Toda essa pesquisa fortaleceu as ideias de Madison e formou a base da Constituição dos EUA.
Essencialmente, é por isso que a arqueologia é importante: porque ela nos mostra onde estivemos e para onde fomos. O poeta francês Alfonse de Lamartine foi que resumiu melhor ao dizer: A história ensina tudo, inclusive o futuro".

William Harris.  "HowStuffWorks - O que a arqueologia pode nos ensinar sobre a humanidade?"
 Publicado em 30 de setembro de 2010 
http://ciencia.hsw.uol.com.br/arqueologia-e-humanidade.htm  (06 de novembro de 2011)

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